Prémio FATAL - Melhor Espectáculo 2010


Alan

TUP / António Júlio

Diz-se muitas vezes que nossos braços são muito curtos para abraçar um universo. Diante disto, tentar abraçar um universo e ainda por cima dar sua própria versão acerca dele se configura enquanto um risco ainda maior. Felizmente tal risco foi tomado neste espectáculo onde a “universalidade das músicas, das letras e das personagens criadas por Tom Waits” foram concretizadas tomando em consideração a participação de cada individualidade envolvida neste processo, e este caminho criativo cada vez mais experimentado no atual contexto teatral foi verificado em cena: a passagem do universo macro para o elemento colectivo/particular foi explorada envolvendo adequadamente as diferentes linguagens utilizadas para compor as “idas e vindas, caminhos, intrigas”, que compõem um verdadeiro “dis-cursus” (apud Barthes 2007: XVIII).

Assumir riscos é quase que inevitavelmente tentar quebrar tabus, sobretudo nos dias atuais onde isto é tentado desesperadamente, tranformando-se em algo banal. Transgredir tabus de maneira consistente é sinónimo de coragem. “Theatre is dealing with it [transgression of taboos] all the time” (apud Lehmann 2006: 186). Quem disse que caixas de sons velhas não produzem bons sons? Quem disse que combinações de velhos caixotes e algumas cordas não podem se transformar em uma guitarra? Quem disse que em um mesmo espaço não se pode encontrar anjos e demónios juntos, por vezes bons, por vezes maus? Depende da abertura de espírito de quem pretende dar um sentido diferente às coisas, mesmo que o resultado seja imperfeito, o que atesta ainda mais a singularidade do objecto. Tudo isto é possível, assim como, no universo teatral, nossos braços tem o tamanho que nós quisermos.

(comentário do júri na atribuição do prémio)

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