Um homem de chapéu escreve. Um outro observa. A puta dança pela sala fazendo soar o seu corpo contra os objectos. Um isqueiro que não funciona. As pernas da mulher movem-se muito lentamente. Os sapatos são vermelhos. Ela está em cima da mesa. Ele olha-a sorrindo. Ela despe-se e chora. Um homem toma conta de outro homem. O rapaz não consegue olhar em frente. Dois cães ladram e acasalam. Três pessoas paradas, quase imóveis. Outras três, muito bêbedas, procuram acertar o passo. Uma voz dentro de um copo vazio. Alguém ameaça matar-se. Alguém acaba por morrer. Alguém morto deambula pelos lugares. Alguém vivo espera como se estivesse morto. As canções de embalar ao ouvido do atormentado. Ela sabe bem o que quer. Ele não consegue dizer o que sente. Os objectos, os vestidos, os cigarros e o vinho. A cadeira vazia. A boca sem voz. Os pequenos passos descalços. O som das moedas no chão. As memórias que se encontram nos bolsos. O inferno por cima. Deus por baixo.
O universo de Tom Waits – as suas músicas, as suas palavras e, acima de tudo, as suas personagens – é o ponto de partida para o espectáculo que o TUP agora leva a cena. Alimentados pelo génio inconfundível de Waits, vertemos as nossas próprias histórias na construção de um trabalho que, não sendo um tributo ao músico, é uma visão dos seus fantasmas, dos locais que habitam e das suas emoções.